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Aprendendo com perguntas

Estimular perguntas traz reflexões poderosas ao ambiente de trabalho, mas nem sempre é uma habilidades que todos possuem. É importante entender o que motiva a pergunta, a intenção dela e os benefícios que podem gerar. Aprender com perguntas pode ser uma saída bastante eficaz.

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Minha maior motivação foi sempre entender o raciocínio de outras pessoas, pensamos de formas distintas e por isso, encontrar a solução para um problema pode ter diversos caminhos, ainda que a conclusão seja a mesma. Saber misturar o conhecimento de todos é uma arte que exige empatia, escuta ativa e flexibilidade para mudar de opinião muitas vezes durante o processo. Para mim, essa arte começa com perguntas e respostas. Ao entrar em reuniões, estou mais interessado em ouvir as perguntas feitas e me questionar o porque delas serem relevantes e o que faz uma pergunta mudar o curso de um projeto. 

É fácil perceber o viés de cada um durante este processo, o CEO com anos de experiência em finanças que sempre se concentra em perguntas sobre o retorno das ações e o resultado final, o líder de vendas que traz a visão do varejo e as dificuldades em sell out em perguntas sobre o processo, sobre como atingiremos tais resultados. São formas de pensar construídas em anos de experiência, como sair desta armadilha do passado? 

Quem pergunta pode ter acesso a diferentes informações ou a outros fóruns de discussão e contribuir com uma visão estratégica, neste caso, enxergar o contexto maior pode encurtar ou rever caminhos. Também é bastante comum que pessoas novas na equipe sejam fonte de interessantes perguntas sobre o jeito atual de se trabalhar, uma escuta ativa pode aproveitar esse momento para implementar melhorias nos estabelecidos processos. Mas o ideal é que se construa equipes diversas, onde as experiências individuais gerem perguntas relevantes a partir de seus distintos backgrounds, perfis e interesses. 

Está claro que estimular perguntas no ambiente de trabalho é uma grande fonte de valor para as empresas: cria conexões e estimula o aprendizado, diminui o risco ao incluir outros pontos de vista e promove a tomada de decisões mais assertivas, então por que não é tão simples? A resposta, porque não fomos treinados para isto. 

Em algumas profissões, o fazer perguntas é ensinado e estimulado desde a faculdade. Médicos  são treinados para questionar seus pacientes sobre sintomas e assim, descobrir a causa raiz por trás de uma aparente dor de cabeça. Jornalistas passam anos aperfeiçoando seu jeito de fazer perguntas, de deixar o interlocutor confortável para descobrir aquele furo de reportagem. Advogados aprendem a questionar suas testemunhas para extrair a verdade que lhe seja mais útil. Mas poucos executivos enxergam o fazer perguntas como uma habilidade a ser aperfeiçoada.  

O lado bom é que existem técnicas para aumentar a eficácia das perguntas. Assim como em um questionário de pesquisa de mercado, na vida real, também existe o tom correto, a sequência ideal e o momento para se fazer uma pergunta em aberto. Estas são apenas 3 das diversas técnicas citadas pela prof. Leslie John em seu artigo para a revista HBR. Ela também afirma que prestar atenção a tudo isto só é possível se deixarmos de lado o ego, a  nossa vontade de impressionar os outros com a nossa solução, com os nossos pensamentos; se estivermos realmente interessados em contribuir.  

Um método bastante difundido nas empresas para se chegar na causa raiz de um problema é o ‘espinha de peixe’, normalmente utilizado em workshops. Não se deve parar na primeira resposta, mas sim, questionar o problema 5 vezes (sempre começando com um porque) para entendê-lo de fato. Essas perguntas adicionais também são úteis no dia-a-dia e uma forma de demonstrar interesse que abre a conversa para uma conexão maior, para um tom informal que facilita a discussão. Quando falamos em fazer brainstorming nas empresas, as pessoas já se sentem mais relaxadas, é permitido falar o que vem à cabeça, é permitido errar, este mesmo comportamento deveria ser adotado ao se fazer estas perguntas adicionais, ninguém terá respostas, mas juntos, podem chegar a um insigth verdadeiro. Ao contrário, se você estiver se preparando para uma reunião com um tom mais desafiador, o ideal é antecipar as perguntas e evitar uma fala improvisada.

Encontrar a sequência ideal para as perguntas foi o tema de estudo do psicólogo Arthur Aron, seu artigo viralizou depois de ser analisado no podcast Modern Love. Nele, pares de pessoas eram convidados para responder 36 perguntas que partiam de superficiais até mais intimistas, no final, os pares que seguiram o questionário proposto gostaram mais um do outro do que aqueles que simplesmente interagiram sem nenhuma orientação (chamado de grupo de controle). Se a sua intenção é construir relacionamentos, o estudo sugere partir de questões mais simples até ‘atacar’ os temas mais complexos, sendo este um bom caminho de se estabelecer a confiança necessária para se chegar na solução em conjunto. Isto não vale para reuniões mais tensas e competitivas, aquelas em que você não pode ignorar o ‘elefante no meio da sala’ e deve partir logo para o prato principal. 

Por último, questões abertas funcionam melhor quando queremos explorar um assunto, abrir o diálogo, quando se tem tempo para buscar novos caminhos. Aqui se encontra muito da inovação. 

A criatividade depende de novas informações, perguntas bem elaboradas promovem interações mais eficazes e direcionam o grupo para um novo caminho. A fonte de perguntas é sempre a curiosidade natural do ser humano e para mantê-la, é preciso ter a alegria e coragem de se fazer perguntas.  

HBR: https://hbr.org/2018/05/the-surprising-power-of-questions

NYT: https://www.nytimes.com/2015/01/11/style/modern-love-to-fall-in-love-with-anyone-do-this.html

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