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Autenticidade em tempos modernos

Como ser autêntico em um mundo onde todo mundo já teve uma ideia brilhante antes de você? Como ser criativo sem imitar outros criativos? Como inovar e ter uma ideia que outras 7 bilhões de pessoas não tiveram? Perguntas como essas com certeza passam pela cabeça de muitos profissionais de marketing todos os dias. Porém, será mesmo que você precisa criar algo que ninguém jamais pensou em fazer?

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O filme Manifesto” traz a formidável atriz Cate Blanchett representando 12 discursos famosos, de diferentes períodos. O discurso final é uma conversa com alunos do jardim de infância sobre o poder da autenticidade. De forma bem-humorada, ela deixa claro que originalidade não importa, somos atravessados por referências o tempo todo e podemos “roubar” e combinar inspiração de qualquer lugar, desde que alinhado com a nossa visão particular, afinal estas referências moldam a nossa forma de pensar. E o discurso se encerra com a frase de Jean-Luc Godard: “não importa de onde tiramos as coisas (os pensamentos, as ideias), mas para onde as levamos”.

Quantas vezes estive em reuniões e me pressionei por uma ideia original, por resolver um problema de uma forma nunca pensada e implementada antes. Realmente, uma bobagem. Carrego comigo uma bagagem de anos, minha forma de pensar é resultado de experiências com a minha família e amigos, sociedade e cultura brasileira, de experiências profissionais e claro, vou sempre recorrer a exemplos passados para pensar o futuro. Aliás, este é o meu grande valor e o que me distingue de todas as outras pessoas!

Sempre discuto, e acho incrivelmente alto, o valor de obras de arte com uma amiga artista plástica, mas a resposta dela está bastante alinhada ao pensamento do parágrafo anterior. O valor de um quadro não está no custo da tela e tintas, ou no esforço investido em uma obra particular, mas sim, cada pincelada traz a bagagem de anos daquele artista, do tempo investido em se aperfeiçoar, das horas de estudo em encontrar o seu estilo e em mesclar as referências de outros artistas que o influenciaram. O mesmo vale para nós, que atuamos no meio empresarial. A nossa autenticidade diz o nosso valor e é preciso entender o que nos torna autênticos.

Anitta entendeu muito bem o valor da autenticidade e essa é a palavra que define o fenômeno brasileiro. A fórmula que ela segue não é original. Madonna já trilhou o caminho de mulher emancipada, que expressava seus sentimentos, sua sexualidade e intimidava qualquer entrevistador. A diferença é que Anitta surgiu em um mundo conectado em redes e sabe muito bem propagar e misturar a sua voz com a voz do povo nas conversas. E ela carrega autenticidade neste caminho, se posiciona politicamente e se aproxima da sociedade. É isso que dá força à artista e que a distingue. Em entrevista recente ao Jimmy Fallon para divulgar seu novo videoclipe e apresentação no festival Coachella, a artista falou da sua origem nas favelas cariocas, dos seus vários namorados, de como faz os homens chorarem por ela e da versatilidade do seu trabalho, que vai do funk ao rock, do papel de cantora ao de diretora dos seus vídeos. Uma entrevista muito bem planejada para conquistar a todos.

Aliás, o universo da moda também começa a discutir esse mesmo valor. Na última edição da Semana de Moda de Milão, a Prada foi bastante julgada por apresentar casacos que seriam releituras de coleções passadas da Balenciaga, duas grandes empresas do segmento. A marca perdeu autenticidade por não ser original? Ou incorporou ideias e fez a sua versão autêntica, fiel aos seus valores? Diversos textos sobre o assunto dominaram esse universo, mas no final, tendo a concordar com aqueles que dizem que autenticidade não tem nada a ver com quem fez antes, tem a ver com alma. Não é preciso mapear todas as referências e explicá-las, é preciso focar no resultado, na sensação que o produto final nos causa.

No mundo empresarial, é muito comum ouvir a frase ‘não reinvente a roda’, mas ainda somos cobrados por ideias originais. Relaxe! Como disse Cate Blanchett no filme “Manisfesto”, esqueça originalidade, copie à vontade e encontre a sua forma de tornar as suas ideias e atitudes autênticas. Valorize a sua história.

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