Desde 2014 comecei a desenvolver uma nova carreira, paralela à de executivo de marketing: a de pai. Em 2017 meu time aumentou, e eu passei a ter mais uma integrante na minha equipe, minha segunda filha. Mas o que isso tem a ver com o mundo corporativo? Muita coisa! E é por isso que optei por abordar o tema em minha coluna desse mês.
A paternidade ainda é um assunto que precisa ser mais debatido nas organizações. Estamos mais acostumados a falar sobre a relação maternidade x carreira, embora ainda haja muito o que evoluir nesse tema (todos nós conhecemos casos de mulheres demitidas após retorno da licença maternidade, entrevistas de emprego em que o potencial da mulher é questionado por ter filhos ou querer engravidar… e ainda nos surpreendemos com contratações e promoções de gestantes). O debate sobre a paternidade nas corporações, por sua vez, é mais recente, razão pela qual somente há menos de 10 anos é que a legislação brasileira passou a oferecer licença paternidade superior a 5 dias corridos, (aumentando para 20 dias, porém de forma opcional para as empresas). Eu fui um dos primeiros a utilizar esse benefício no meu trabalho, e fez toda a diferença para mim e minha esposa quando nossa filha nasceu. Atualmente já estamos vendo algumas organizações permitindo uma licença de até seis meses, o que evidencia a importância da participação masculina na criação dos filhos.
Além das discussões nas organizações, falar sobre paternidade é falar sobre liderança. Ser pai é um exercício constante de liderar, inspirar e desenvolver pessoas. Ser pai me fez (e ainda me faz) aprender a ser um líder melhor em meu trabalho.
O maior aprendizado na minha carreira de pai é a importância do líder como uma referência. Gerenciar (e cuidar) de pessoas é atuar como um role model, inspirando valores e princípios através das nossas atitudes. Através do nosso comportamento é que tornamos crível aquilo que defendemos. Nossos times – e nossos filhos – estão constantemente nos observando e avaliando o quão consistentes somos entre o que falamos e o que fazemos.
Ser uma referência é também ser um pilar de segurança em momentos difíceis ou de crises. O líder, assim como o pai, precisa mostrar-se confiante e seguro, dando a sua equipe a tranquilidade de que os contratempos passarão e que existe um plano para supera-los. Isso mantém seus liderados focados em suas atividades e motivados a seguir em frente. Trabalhar em um ecossistema de crise em que o líder mostra-se inseguro ou desnorteado gera um ambiente de stress, desgaste e perda de produtividade. Já vivenciei diversos momentos assim em minha jornada de pai. Quando minhas filhas se machucam, suas atitudes são um reflexo da minha reação: se eu manifesto tranquilidade (“não foi nada”, digo a elas), se levantam e continuam a brincar, mas se eu demonstro susto ou preocupação, começam a chorar. O mesmo aconteceu quando ficamos presos em um elevador por longos minutos: minhas filhas somente começaram a chorar a partir do momento em que eu comecei a demonstrar ansiedade para sair logo dali. Qualquer semelhança com a realidade corporativa não é mera coincidência.
Além da importância de atuar como uma referência, a paternidade também mostra a relevância do líder para o desenvolvimento de pessoas. Tento sempre reconhecer a evolução e o desempenho das minhas filhas (uma boa nota na escola, mudança de nível na natação, etc.), celebrando cada conquista e as estimulando a continuar se desenvolvendo. Ao mesmo tempo, procuro transformar cada frustração ou fracasso em uma oportunidade de aprendizado, identificando o que pode ser feito de diferente da próxima vez. Levo esse mesmo comportamento para a gestão da minha equipe.
Um pai também aprende com suas filhas, assim como um líder também aprende com seu time. O conhecimento independe da idade ou background, e estar aberto a aprender com seus liderados é seguramente um dos maiores benefícios de liderar. Um dia desses minha filha me ensinou sobre as constelações do universo, contente em dividir comigo o que aprendeu na escola (seria essa sua primeira experiência de mentoria reversa?). Da mesma forma, aprendo com minha equipe sobre hábitos e costumes de sua geração, assim como aspectos culturais de seu país (já que atuo fora do Brasil).
Um líder, ou um pai, precisa dar liberdade a seu time, deixa-los exercerem suas atividades seguindo seu estilo e sua personalidade. Por mais que tenhamos o ímpeto de controlar ao máximo nossos filhos (ou times) e querer que eles se comportem exatamente do jeito que gostaríamos (em uma tentativa, talvez, de protege-los ou micro gerencia-los), precisamos dar-lhes a autonomia necessária para se expressarem e aprenderem com seus erros e acertos. O líder somente extrai o máximo de potencial das pessoas quando os dá suficiente liberdade. Eventuais falhas farão parte do processo de aprendizado e crescimento, e isso é absolutamente normal.
Uma vez me disseram que o maior legado dos pais é criar seus filhos para que, sozinhos, alcancem voos maiores e realizem seus objetivos. Não seria esse também o maior legado de um gestor? Desenvolver pessoas e fazer a diferença na vida delas? Saber que, de alguma forma, transformamos pessoas e deixamos nossa marca nelas? Caro leitor, não pense que me considero um pai perfeito, muito menos um gestor perfeito. Erro e aprendo muito, mas se eu conseguir cumprir esse legado, terei a tranquilidade de saber que fui bem sucedido em minha trajetória.