NTFs e a experiência do usuário: minha tentativa de comprar uma arte digital

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Neymar comprou dois NFTs do Bored Ape Yacht Club (BAYC) por R$6,2 milhões. Madonna e outras celebridades também compraram exemplares dos macacos mais famosos do mundo digital. Start-up brasileira de NFTs faturou mais de R$2 milhões em 2 dias. OpenSea, o mais famoso site de comercialização de NFTs, já negociou um volume mensal de USD 3,5 bilhões.

Essas e outras notícias surgem diariamente em nossos feeds das redes sociais, sites e outros canais de comunicação. As cifras milionárias pelas quais alguns NFTs são negociados, o envolvimento de celebridades, e a curiosidade gerada pelo metaverso e seus elementos após o foco dado por Zuckerberg geram cada vez mais atenção para as Non-Fungible Tokens, além de promessas de lucratividade e enriquecimento.

Ainda existem muitas dúvidas sobre o potencial dos NFTs e sua real utilidade. Cada vez mais vemos marcas entrando nesse universo, prometendo ativações e experiências exclusivas aos seus participantes. Há quem diga que os NFTs serão o futuro das artes, do engajamento com consumidores e dos planos de mídias das marcas. Ao mesmo tempo, muitos os consideram um grande modismo passageiro, uma distração para os times de marketing e as agências.

Acredito que estamos diante de algo sobre o qual ainda não conhecemos o potencial. Parte desse movimento pode ser uma bolha que estourará em breve, mas algo certamente irá permanecer e mudar a forma como consumimos conteúdo, mídia e arte. Muitas das utilidades futuras dos NFTs ainda são desconhecidas por nós, e somente se manifestarão na medida em que a tecnologia se tornar mais democrática, e novos desenvolvimentos forem feitos a partir do que existe atualmente.

Já havia escrito sobre NFTs em um artigo anterior para a Makers, mas ainda como um observador desse movimento . Desde então, resolvi navegar mais a fundo nesse universo e comprar um NFT para chamar de meu. Minha ideia não era comprar algo com o objetivo de descobrir a próxima obra de arte milionária, mas testar a experiência do usuário, o nível de complexidade e a utilidade de uma arte virtual. Optei por fazer todo o processo sozinho, apenas me informando online em fóruns de discussão e sites de busca.

Não foi uma experiência fácil, pelo contrário. Demandou tempo, tentativas e erros, além de um trabalho prévio de entendimento de conceitos. Talvez existam formas mais simples de transitar nesse meio, mas acredito que muitas pessoas tentariam da mesma maneira que eu.

Minha primeira tentativa de compra de um NFT foi acessando a plataforma OpenSea. Além de ser a mais conhecida de todas e uma das pioneiras nesse mercado, queria comprar a obra de um artista que tinha seu perfil por lá. Baixei o app, encontrei o artista, selecionei a arte, e em como qualquer compra online, acreditava que o próximo passo seria inserir os dados do meu cartão de crédito e pronto! Entretanto, o próximo passo era conectar minha carteira digital (wallet) ao app. Não tinha nenhuma carteira até o momento, por isso baixei uma das opções recomendadas pela OpenSea.

Uma vez instalada a carteira, chegou a vez de comprar minha criptomoeda. Nesse momento tive contato com uma das principais características da Web3: a descentralização da rede, gerando uma proliferação de moedas virtuais, das quais a Bitcoin é a mais conhecida. Descobri que a moeda mais utilizada para comercialização de NFTs é a Ethereum (ETH), e iniciei o processo de compra. Apesar da carteira virtual permitir a compra por cartão de crédito, o processo não era concluído. Tentei diversas vezes, e não consegui. Fui informado pelo meu banco que esse processo não é autorizado no Brasil, e seria necessária a compra através de uma corretora.

Próximo passo: cadastro na corretora. Novamente pesquisei opções online, escolhi uma das principais e finalmente consegui fazer a compra online! Só havia um problema: a compra era em uma criptomoeda diferente da ETH. Mas tudo bem, em minhas pesquisas aprendi que era possível converter moedas posteriormente.

Passado o processo de compra, chegou a hora de transferir minhas moedas para a carteira. Não foi um processo intuitivo, tive que novamente estudá-lo online, consultar sites. Li muitos comentários de pessoas que perderam seus ativos ao fazer essa transferência por terem feito o processo errado, o que me gerou insegurança. No meu caso tudo funcionou bem, e rapidamente minhas moedas apareceram na carteira, porém em uma rede diferente da ETH.

Descobri que cada criptomoeda opera em uma rede diferente. Cada rede é uma blockchain, que, de forma leiga, é onde são registradas todas as transações relacionadas às suas respectivas moedas. Novamente, tive que estudar como transferir moeda de uma rede para a outra. Outro processo pouco intuitivo. Após algum tempo de estudo, fiz a transferência e, bingo! Meu dinheiro havia se convertido em ETH, porém parte dele foi consumido como taxa, chamada de gas fee.

O gas fee é uma taxa paga pelo serviço prestado para a transação ser processada e registrada na blockchain. Esse valor é pago aos miners, que são as pessoas que validam a operação. Esses mineradores usam computadores especiais com poder de processamento realmente alto para registrar as transações, o que gera um elevado consumo de energia elétrica. O gas fee, portanto, é uma forma de reembolsar este gasto e manter os miners incentivados a trabalhar, garantindo assim a segurança da rede.

Depois de todo esse processo, estava pronto para comprar minha primeira obra de arte digital! Nesse momento me deparei com muitas das características do mercado de NFT que estão sendo discutidas pelos interessados no tema.

O preço da maioria dos NFTs é extremamente alto: 1 ETH equivale a mais de R$15 mil! Quase todas as obras que eu procurei custavam acima de 0,3 ETH, o que representa em torno de R$4,5 mil. Esse valor se torna ainda mais impactante quando analisamos a qualidade do que está sendo ofertado. Eu sei que o valor da arte é muito subjetivo, mas acredito que os preços estejam inflados devido a um fator especulativo. Muitos dos que compram um NFT esperam uma hiper valorização (como aconteceu com BAYC e outras coleções), por isso tentam revender seus ativos por preços significativamente superiores aos da compra. Tentei negociar preços mais baratos do que os ofertados, e não tive nenhuma aceitação. Quase todas as obras que me interessaram continuam à venda, mas seus proprietários não reduzem o valor.

Muitos criadores de NFTs colecionáveis estão tentando achar a próxima mina de ouro digital, assim como foi com o Bored Ape. São diversas as coleções de obras, muitas delas semelhantes aos famosos macacos. Inclusive existem coleções tão parecidas, que mais parecem falsificações.

Outro ponto de discussão é a utilidade de um NFT. O que fazer com ele, além de esperar uma valorização financeira? Muitas coleções oferecem acesso a experiências exclusivas (virtuais ou reais), outras criam um senso de comunidade entre seus participantes. Ter uma obra famosa também gera status (quem não gostaria de fazer parte do mesmo clube da Madonna e do Neymar?). Há pessoas que usam suas artes virtuais em ambientes igualmente virtuais: conheci uma pessoa que comprou uma pintura virtual para colocar em seu ambiente no Roblox.

Realmente acredito que estamos diante de uma nova era em construção, cuja utilidade, potencial e benefícios ainda são desconhecidos. Já vemos marcas entrando nesse universo, dinheiro circulando, pessoas interessadas e experiências sendo geradas, mas ainda há um longo caminho de democratização, simplificação e relevância. Somente com o tempo é que teremos real dimensão do que está acontecendo. Cabe a nós participar da discussão e experimentá-la para estar atualizado e tirarmos nossas próprias conclusões.

E como terminou minha experiência de compra? Bem, ainda não terminou. O valor que eu disponibilizei em ETH é baixo demais para comprar as obras que me interessaram, e não vi relevância naquelas que eu poderia pagar. Ainda estou esperando encontrar algo que valha a pena.

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