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Corpo de Golias e espírito inventivo de Davi

Antigamente toda pequena empresa buscava replicar a líder do setor. Como espíritos inventivos de Davi, as pequenas empresas olhavam para as grandes referências multinacionais ou nacionais como inesgotáveis fontes de inspiração, porém, hoje, são as grandes corporações que buscam inspiração de inovação no mundo das startups.

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Houve um tempo, não muito distante, em que toda pequena empresa buscava replicar a líder do setor.  A pequena empresa olhava para as grandes referências multinacionais ou nacionais como inesgotável fonte de inspiração, tendência e pensamento de futuro, e tentava, a todo custo, diminuir seu gap de inovação – mas jamais zerá-lo. Parecia um mundo distante competir de igual para igual com a grande corporação e suas infinitas vantagens competitivas, sua escala, seu know-how e capacidades, visão de longo prazo e amplo acesso ao capital.

Não faz tanto tempo assim, mas muita coisa mudou muito rápido. O jogo virou.

Hoje, são as grandes corporações que buscam inspiração de inovação no mundo das startups. E isso aconteceu basicamente porque as antigas vantagens competitivas das corporações gigantes diminuíram rapidamente e vou explicar por quê.

Primeiro, o acesso ao capital nunca foi uma barreira de entrada tão baixa. No mundo das taxas de juro zero, excesso de liquidez financeira na mão de venture capitalists, e novas modalidades de captação como SPACs, nunca foi tão fácil para um pequeno empreendedor ter acesso ao capital.

Além disso, os custos nunca foram tão baixos e tão fáceis de variabilizar: Software as Service, Cloud Storage e tantas outras ferramentas que hoje podem facilmente se adaptar ao nível de escala do negócio sem pesar a estrutura com custos fixos.

Sem falar que ter um impacto regional, nacional e global nunca foi tão fácil. Footprint global sempre foi uma vantagem das grandes corporações e hoje o são ainda mais. E o mais importante: nunca o mundo mudou tão rápido!

Alguns chamam de mundo VUCA (volátil, incerto, complexo e ambíguo no acrônimo em inglês); outros especialistas dizem que a velocidade e agressividade das mudanças acelerou tanto que o mundo pode ser descrito com outro acrônimo – BANI (frágil, ansioso, não-Linear e incompreensível). Mas o fato é que as tecnologias são grandes catalisadores dessa velocidade. Hoje, novas trends emergem em menos de um dia e se tornam fenômenos globais.

E, nesse contexto, velocidade vira a vantagem competitiva mais importante e mais perene. É difícil prever o futuro, mas a certeza é que ele continuará mudando cada vez mais rápido. A escala, que muitas vezes ajudava, vira somente “tamanho” e os grandes músculos do Golias corporativo começam a atrapalhar onde antes ajudavam.

Os processos, feitos para maximizar eficiência sob a lógica da economia industrial do século 20, não garantem a velocidade necessária. As estruturas de gestão verticais, hierárquicas, top down, criadas para garantir alinhamento, estabilidade e eficiência viram inimigas da inovação. E o footprint global vira desconexão com o consumidor local.

É exatamente por isso que as grandes corporações estão obcecadas em entender melhor como ser mais start up. Elas entenderam que é questão de sobrevivência. Muitas delas perseguem esse objetivo através de aquisições e outras criando suas células internas de inovação, com suas próprias regras, processos e orçamentos. Elas entenderam que mais importante do que seguir a “próxima trend” no horizonte (que é uma vitória de curto prazo) é garantir que desenvolvam a capacidade de se mover rápido e com conexão ao consumidor, reagindo as mudanças do mundo e do mercado de forma cada vez mais responsiva (essa sim uma vantagem de longo prazo, para surfar todas as oportunidades). E isso demanda mudanças gigantes no perfil de talentos, diversidade, processos, rotinas e modus operandi.

Mas nem tudo são flores no mundo dos pequenos Davis.

A mesma tecnologia traz os chamados efeitos-de-rede que tendem a consolidar negócios e gerar monopólios. Ninguém quer pesquisar no “segundo melhor Google”. A era da informação é também a era da consolidação rápida e toda startup tem como seu maior imperativo e seu maior desafio o de ganhar escala rápido. Isso é extremamente difícil e doloroso. Pouquíssimas startups conseguem crescer. Menos ainda conseguem criar culturas organizacionais e adquirir talento humano que seja adaptável em todos os ciclos e tamanhos da organização, e na inabilidade de crescer, morrem.

Mas… Contradição das contradições! Não acabamos de falar que o tamanho atrapalha? Hum. Não!

Startups têm se mostrado muito mais ágeis, adaptáveis e capazes de rapidamente conectar com necessidades do consumidor. Criar produtos desejáveis, enquanto as grandes corporações já aprenderam a jogar o jogo da escala e criar viabilidadepara suas operações.

Aparentemente o mundo do futuro pertencerá aos mestres do modelo híbrido: aquelas que conseguem crescer rápido sem perder a velocidade e foco no consumidor dos seus primeiros dias de negócio.

Desenvolver esse modelo deveria ser hoje a coisa mais importante na agenda estratégica da sua organização. Corpo de Golias e espirito inventivo de Davi.

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